A Seleção da Berlinda. By Ronald Junqueiro
Nota triste da
semana: saída do Neymar da Seleção por causa da entrada dura do jogador da
Colômbia Zuñiga, aos 40 minutos do segundo tempo, que causou fratura na
vértebra do brasileiro. Torcemos agora para a recuperação de Neymar.
Mas a
sexta-feira veio com boas novas. Depois do meio dia enfrentei um engarrafamento
horroroso na BR para chegar à transportadora que trouxe os CDs com a trilha
musical do romance “Berlinda – asas para o fim do mundo”. Com isso, fecho o
ciclo do projeto que elaborei para escrever um romance com trilha sonora que,
até onde sei, é um projeto inédito. O
sonho de trabalhar literatura e música simultaneamente foi realizado com muita
alegria e o melhor de tudo foi o coração aberto com que foi adotado por
artistas - músicos, compositores e intérpretes – que disseram sim sem
pestanejar.
A poeira não
sentou, mas só agora, posso pensar no que foi esse processo e no tremendo
esforço que foi roubar de Midas o toque que iria dourar o sonho realizado. Mas
veio só o toque e a realidade de que produzir cultura no Brasil – só posso
falar daqui – é candidatar-se a uma camisa de força. Não discuto qualidade, mas
processo e nesse sentido, sempre me lembro de Elis Regina falando em uma
entrevista que o espetáculo (cultura) no Brasil era hollywoodiano, mas a
produção era macunaímica. Não foi diferente
no caso do livro e do CD, que foram possíveis, pois contra essa corrente que
puxa para trás, topei com muitos amigos que acreditaram no projeto e que me fizera
entender que se você acredita no que faz, se há verdade no que você se propõe,
siga em frente sem atropelar ninguém.
Não falo isso em
tom de lamento. Se tivesse disposição, engrossaria a crítica aos que estão
provisoriamente sentados numa cadeira reservada aos podres poderes, priorizando
tudo o que lhes garanta a permanência monárquica ou republicana, menos cultura –
e aqui tudo o que se refere à criação artística) e educação.
Vivo um instante
em que a alegria vence o cansaço e o desânimo, mas sei que, de fato, esse
instante não é pontual, pois as mudanças que estou experimentando para me
entender melhor neste mundo e no meu tempo – por, sem interpretações esotéricas
– são de uma riqueza incalculável. Isso porque acredito que posso ser uma
pessoa melhor, que me possa me desfrutar com mais prazer em mínimas coisas como
ir ali à janela olhar a rua e olhar pessoas que passam mais embaixo, tecendo
seus sonhos íntimos, buscando solução para seus problemas e imaginando a
felicidade. O ser humano é imbatível, digo isso, pois não conheço um extraterrestre
– sempre quis, mas meus vizinhos são normais. Será?
Outra
coisa boa é que vou preparar um sarau lítero-musical com a participação dos
rapazes da Berlinda Band, exibição do clipe do samba enredo “Derruba o muro,
mistura tudo e que Deus nos acuda”, do Grêmio Recreativo Escola de Samba Para
Sempre Unidos de Berlim, na voz cheia de alegria do cantor Carlinhos Sabiá e
com um arranjo fusion do músico Hélio Silva, que dirigiu a gravação e que
lidera a Berlinda Band. Aproveito para lançar o CD e relançar o romance.
Sinto
um gosto antecipado de quero mais, pois a partir daí o romance e o CD deverão
seguir sozinhos, sem novos eventos. Se conseguirem ir até onde a estrada os
poderá levar, creiam que estou na torcida. Acredito que fiz um projeto capaz de
baixar em qualquer praça. Mas confesso que é trabalho pesado, que o desafio
para os produtores independentes ou alternativos é pior que o dos 300 de
Esparta. Precisam dos amigos e da sorte. Sou sortudo por ter os dois.
Em outubro o
romance e a música voltam ao palco no sarau “Noite da Berlinda”. Ninguém vai
precisar pagar para viver essa noite com música e literatura.
Mais pra frente, informarei onde o livro
e o CD serão vendidos. São dois produtos independentes. Quem compra o livro não
tem que necessariamente compra o CD e vice-versa. Mas duvido que quem leve o CD
não queira saber que personagem ganhou uma música só dele.
A música é uma
coisa que marca a memória de todos nós, em algum momento da vida, nem que seja
a marcha nupcial. Bem melhor que os réquiens e outros temas fúnebres. Aliás,
acredito que velório deveria ser agitado por allegros e outros ritmos calientes.
Pelo menos o meu recomendo que seja assim. Resisto à ideia de ser triste.
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