sábado, 12 de julho de 2014

Páginas flutuantes

Mergulho em em águas profundas. By Ronald Junqueiro

Na escuridão

andando e tateando

com o coração


Sabadão da Copa. Holanda leva o terceiro lugar mandando o Brasil para o quarto. 3 x 0. E assim sigo em frente. Vou à praça torcer pela Alemanha, neste domingo, na final com a Argentina. Estou na torcida pela a Alemanha, por várias razões, agora com um cordão umbilical literário, com o surgimento de “Berlinda”.

No meio da tarde, depois de uma paradinha no Facebook para ver as reações dos brasileiros diante do resultado pífio alcançado pela Seleção Canarinho. Foi decepcionante a eliminação do Brasil, que sediou a Copa, da maneira em que se deu. A goleada inacreditável dada pela Alemanha, que terminou no 7 x 1 e que ameaçou ser mais. Não morro de vergonha como milhões de apaixonados pelo futebol. Encaro o resultado com frieza: o Brasil, que ainda não se curou da síndrome dos craques, nem mesmo depois da derrota, sabe o que é equipe, time e apostou fichas no Neymar, jogador talentoso e criativo, mas que não era e nem será o salvador da Pátria de Chuteiras. Infame o que fazem os marqueteiros, cartolas, patrocinadores e a mídia com um exército de jornalistas e comentaristas a afirmarem até o fim que o melhor da seleção era Neymar, o pintinho do cocô de ouro para esse exército de comprometidos e interessados apenas em dinheiro, em enriquecimento sob as bênçãos da CBF e FIFA.
Passou como passam as estações.

Mas o que o futebol tá fazendo aqui?  Só marcando presença. Também faz parte do diário da Berlinda que pode ir onde quiser.

Pois vem, voltando do desvio, conheço um livreiro brasileiro que mora em Berlim e que é dono da “A Livraria”, que tem muitos títulos brasileiros à venda. Hoje encontrei com ele numa das postagens da rede e ele me disse que o meu livro está à venda na sua livraria. Está à venda por 20 euros. Fiquei superfeliz com a notícia e ela me dá disposição de encontrar outros caminhos para fazer meu romance circular. É um mercado difícil, como falei outras vezes aqui, em especial para escritores independentes como eu, publicados por editoras pequenas – isso não tem nada a ver com qualidade do produto, apenas com dificuldade de distribuição.

Para escritores fora do circuito das grandes editoras é, realmente, participar de uma maratona sem uma boa musculatura. Mas isso também não pode ser motivo para fazer desistir quem quer se lançar em uma aventura literária. Mais do que antes, vejo que o mundo é cheio de histórias que podem ser contadas e que essa vidinha comum como muitas vezes a gente fala, principalmente quando anda de fogo baixo, tem gente incrível e personagens capazes de nos surpreender se topamos com eles em alguma esquina, onde dê para fazer uma paradinha para conversar. Passei muito tempo achando as histórias da minha família e de amigos próximos tão sem graça e agora, depois de colocar o pé na terra dos escritores, vejo tudo de forma diferente.

Atribuímos uma condição especial nessa instância literária para olhar o mundo por onde transitamos, mas se nos déssemos conta de que essa condição especial na verdade é nosso cotidiano, creio que estabeleceríamos uma nova relação com tudo o que nos cerca, penso que poderíamos olhar o mundo maravilhado com o que nós podemos aprender, a nos aventurarmos de uma forma mais livre e verdadeira, sem tantas simulações sociais. As pessoas que estão por perto são cheias de histórias para contar, basta que a gente pare para ouvi-las.

A experiência da “Berlinda” me deixou esse legado. Há momentos em que olho tudo como página em branco pronta para ser preenchida e outras vezes ouço como se virasse páginas já escritas, prontas para impressão. Não há velhas histórias, tudo é muito pulsante em nossa volta e é matéria que pode ser transformada em narrativa.

Assim se dá com música, outro momento de criação que é incrível. Hoje comecei a ler e estudar um pouco de haikai. Há muito tempo eu andava namorado esse tipo de poesia japonesa. É uma arquitetura fascinante construída com dezessete sílabas. Isso me remeteu aos modos modernos de escrever como a onda de escrever nano contos com o mesmo número de caracteres usados no Twitter. Esse minimalismo da fala que as pessoas levam para o altar como o formato para a velocidade do mundo moderno, condenado à falta de tempo, é uma pregação mentirosa. O Haikai veio antes do Twitter.

Vejo de outra forma: a fala ou a escrita podem ser minimalistas ou nano escritas para dar precisão à fala, á poesia, à prosa, ao diálogo.  Não deve ser encarada como economia de palavras, mas de construção e de plasticidade. Comecei a fazer exercícios que penso publicar aqui no blog, tenho só que amadurecer mais essa ideia e buscar um motivo.

Estou meio sem gás para continuar a escrever.  Mas volto. Bye, bye.

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