sábado, 11 de outubro de 2014

Samba da Berlinda em Berlim





 O samba enredo é real, mas a escola de samba não, o Grêmio Recreativo Escola de samba Para Sempre Unidos de Berlim é pura ficção. Essa mistura, no entanto, resultou no clip do samba “Derruba o muro, mistura tudo e que Deus nos acuda!" (Ronald Junqueiro/Pedrinho Cavalléro) que assina o último capítulo do romance “Berlinda – asas para o fim do mundo”.

O CD e o clipe foram apresentados pela primeira vez, em Berlim, em janeiro deste ano e só agora fiz o lançamento em Belém, durante um bate papo sobre fotografia e literatura, com direito a trilha musical com a participação da Berlinda Band, outro elemento dessa ficção que se concretizou. O encontro foi realizado no auditório do Sesc Boulevard, na terça-feira, dia 07 de outubro, com uma grande alegria de fechar um ciclo iniciado há quase um ano.

No próximo sábado venho aqui contar um pouco mais de tudo isso. Hoje não dá, pois a cidade está em festa e amanhã é o grande dia da Padroeira de Belém, a Virgem de Nazaré, a grande estrela do Círio de Nazaré, que se realizada a mais de duzentos anos, em Belém.

Vou deixar aqui o clip do samba e um fragmento do meu romance.

FELIZ CÍRIO!

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Outubro transformava a cidade. Belém, querida cidade barulhenta. Outubro tinha vida própria, e Belém despertava todos os dias em clima de festa. As pessoas preparavam-se para o segundo domingo do mês, antecipavam dezembro e o Natal. Vinha gente de onde nem se imaginava, pelas estradas, pelos rios, pelos voos lotados. Era como se houvessem atiçado alguma casa de saúvas e formigas intencionalmente. Aquela gente invadia todos os cantos em nome da fé e de esperanças renovadas, havia promessas a serem pagas na grande procissão da Virgem de Nazaré, a padroeira, a milagreira, como relatavam os romeiros e devotos, adoradores da Santa, fé aprendida desde a infância. Na procissão do domingo, os pagadores de promessas alcançadas levavam imagens de cera, ex-votos, modelos de casas em isopor ou miriti, tijolos na cabeça, cruzes pesadas. Crianças seguiam na romaria vestidas de anjo, homens e mulheres usavam mortalhas. Tudo era espetáculo. Tinha cobertura das redes de televisão estrangeiras, produtores de documentários, curtas e longas-metragens. Nem o Vaticano conseguia atrair essa massa humana nos dias em que o Papa abençoava os fiéis. O segundo domingo de outubro era devoção e festa. Banquete, comilança. Família reunida e casas de portas abertas para quem chegasse. À noite, shows na praça santuário e um velho parque de diversões sem novidades, com brinquedos previsíveis. Bêbados, brigas, assaltos.

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