A beleza do outono é cheia de colorações sutis. By Ronald Junqueiro |
Entre o verão e o inverno que vivemos na
Amazônia, a não ser que o planeta saia dos eixos e as mudanças climáticas nos
surpreendam, dificilmente conheceremos o outono, uma das estações que sempre
encheu meus olhos desde a primeira vez que vi a transformação das cores da
natureza até que sumissem da paisagem dando lugar ao Senhor Inverno.
Risquei outubro do itinerário da
berlinda. O lançamento do livro será,
agora, no dia 11 de novembro, a partir das seis da tarde, no Espaço Teatro Gasômetro,
que fica nas terras do Palácio da Residência.
Como eu pressentia, a capa foi o nó de
quatro pernas da questão da data para trazer o romance a público. Mordi a ponta
da língua, respirei fundo e acho que fiz a coisa certa para evitar a angústia
que seria a gráfica de São Paulo mandar um pacote de livros nas vésperas do
lançamento. Correndo o risco de a remessa não chegar a tempo.
Foram apresentadas quase vinte propostas
de capas, uma verdadeira peleja que durou mais de duas semanas. Não sei dizer
se seria diferente, mas as decisões poderiam ser menos tumultuadas. No final, a
inevitável exaustão mental.
Mas será também uma experiência
inesquecível.
A capa foi criada a partir de uma foto
que fiz do muro do Mauerpark e será usada na capa e contracapa quatro, mas
ainda não vou publicá-la hoje, só quando o livro chegar a Belém, o que deve
acontecer no final de outubro.
Achei bacana compartilhar esses momentos
neste diário e encontrei alguns interlocutores muito bacanas como a Ana Luiza
Couto, amiga de longa data que vive em São Paulo e que conhece de perto o
barato das editoras por trabalhar nessa área; Karlen Ricke, artista gráfico e
escritor, que me deu uma capa de presente e que vou guardar nos meus arquivos
de “Berlinda”; a Daniela Figueiredo que conheço há zilhões de ano, gaúcha de
fato, e que um dia irei conhecer pessoalmente. Eu acredito em amizades virtuais
e é uma nova forma de gostar e de conviver. Foi assim que ganhei a amizade de
uma pessoinha muito especial, a Elis Marchioni, jornalista, paulista apaixonada
por Dalcídio Jurandir e pelo Pará. Este ano, quebrei a vidraça virtual e
ganhei uma nova amiga, Letícia Castro, que também é jornalista.
Antecipo agradecimentos ao Flávio
Nassar, que tem nariz de jornalista, e que anunciou o lançamento do livro antes
de mim. É o que se chama “furo” e veio de onde eu menos esperava. E ao Salomão
Laredo que já deu notinhas na sua coluna da revista da Fox. Thx.
Agora é esperar. Passo por uma espécie
de vazio, por ter fechado uma etapa ao ver concluído o trabalho de edição. Mas
tela de computador não é o livro impresso. Eu tenho essa visão por conta de
trabalhar muitos anos na redação de um jornal e saber da delícia e do tormento
que era editar a primeira página.
São duas coisas diferentes, mas o princípio
é o mesmo. A primeira página é a vitrine do jornal. A capa do livro também.
Pensar no título da manchete era um momento de testar a criatividade para
sintetizar em uma linha de 30 caracteres o óbvio necessário. Um trabalho
artesanal e coletivo. Nem sempre o editor acertava e dá para fazer uma
compilação antológica de erros, gafes e estupidez ululante.
E depois que o jornal estava na
rotativa, vinha o frio na barriga misturado ao cansaço de fechar mais uma
edição. Estava feito e só nos restaria o dia seguinte. O devir. Aprendi muito
com duas pessoas que me ensinaram jornalismo, no dia a dia, o Cláudio de Sá
Leal e a Ana Diniz.
Agora é esperar o novembro de Belém, sem
o outono a olhos vistos, mas com a mesma sensação e lembrança que guardo de
Tokyo e de Berlim, onde fiquei fascinado por essa delicadeza da transformação
que me inspirava esse tempo. Prefiro o outono à primavera. Primavera prefiro em
cartão postal ou fotografia.
Um dos personagens do livro tem alergia
a pólen e sofre horrores na primavera. Muitas pessoas são acometidas com a “febre
do feno”, caracterizada por espirros, nariz úmido, coceira nos olhos, ataques
de asma e conjuntivite. Conheci uma brasileira, andando que nem um zumbi à
procura de uma loja de eletrodomésticos usados onde comprasse, em bom estado,
um aspirador de pó, pois a casa onde morava fora invadida por uma nuvem de pólen
vindo de um parque vizinho e ela não conseguia parar de espirrar. Coisa bizarra: a mulher,
enlouquecida, usava aspirador nos cabelos, armado com tranças afro, pois o
pólen lhe provocava coceira no couro cabeludo. Ela repetia a todo momento: “Tudo por causa da
ambrósia”!
E só faltava arrancar as tranças ou se
escalpelar.
A ambrósia comum, conhecida como
Ambrosia artemisiifolia, é uma planta que chega a um metro de altura, nativa da
América do Norte, que provoca a ‘febre do feno”. Ela se espalhou pela Europa.
Mas não apenas a ambrósia provoca alergia. A bétula, o avelaneiro e a castanha
da Índia também entram na temporada das alergias que começa na primavera.
Nenhum comentário:
Postar um comentário