Origem do projeto de capa. Dá para visualizar a ideia. By Ronald Junqueiro |
Para alguns pode parecer óbvio, mas
insisto em dizer que a primeira lição para quem quer embarcar na aventura
literária de lançar um livro é colocar na cabecinha que o ponto final ou o The
end é pura ficção. Essa experiência
óbvia eu senti durante muitos anos atuando como repórter e antes de entregar a
matéria para o editor, na pressão, lia e relia o texto quantas vezes fosse
preciso e o tempo permitisse até considerar que não havia mais nada a fazer, em
relação ao texto e as informações apuradas, e que o que viesse depois estava fora
do meu controle. Depois de rodar e virar notícia, era esperar o depois. Falo
aqui apenas do processo de preparar o texto do dia a dia numa redação, a grosso
modo.
Vamos considerar também que o jornal e o
livro, depois que o texto estanca no ponto final sai do nosso controle. Cada um
dos dois segue um caminho e pronto. Um pode virar manchete de primeira página
ou sequer virar uma chamadinha de uma coluna. O outro, o texto que virou livro,
sabe-se lá!
As últimas quatro semanas foram exaustivas
no ir e vir do livro no circuito editora_autor_editora_autor até quase faltar o
ar, tipo rolar numa onda de pororoca e tentar escapar da última onda por pura
exaustão.
Este é o total sentimento de marinheiro
de primeira viagem.
É incrível a maresia de estado mentais e
emocionais que a gente experimenta na reta final da revisão. Lembro exatamente quando me dei por vencido
ontem: a “Berlinda” veio para que eu fizesse a última leitura para dar o Ok. E
bem depois da metade do livro meu olho esbarrou num que chamo de errinho à toa.
A divisão silábica da última palavra do último parágrafo da página 203 tinha um
travessão errado e a grafia errada: Na diagramação, a palavra Mehringdamm, nome
de uma rua que fica no bairro de Kreuzberg, em Berlim, ficou dividida assim:
Mehringda – mm.
Os dois “mm” foram parar na página
seguinte, 204. O olho bateu no erro como uma lupa e um sonoro “tóóóóin!”...
Um erro quase imperceptível a nos mostrar
que revisão pode chegar à exaustão da procura à agulha no palheiro. Eu acredito
que nesse processo, atingimos o instante em que essa busca pelo erro é feita no
piloto automático ou de forma instintiva. E temos que cessar a procura ao texto
irretocável porque não dá mais pra continuar, pinta a sensação de rejeição
misturada ao cansaço, irritação e de que nesta peleja temos que dizer “pira paz
não quero mais”.
Ontem, o editor me ligou à tarde e
perguntou se eu já ele podia enviar o livro para a gráfica. Acho que nem ele
acreditava que o trabalho de revisão havia terminado. Ainda brinquei dizendo
que havia detectado mais uma série de erros. Ele tomou um susto. Depois
percebeu que tudo não passava de uma pegadinha.
Depois disso veio uma espécie de dever
cumprido com uma pitada de vazio. Este foi o primeiro voo da Berlinda que
começa a bater as asas para o fim do mundo.
Desejo boa viagem para a Berlinda. Antes
mesmo de decolar de fato, no dia 11 de novembro, quando será lançado, o romance
será apresentado na abertura do seminário de literatura contemporânea, no
Instituto Latino-Americano, da Universidade Livre de Berlim (FU), na aula magna que
será proferida pelo professor Gunter Pressler, que inaugura a Cátedra “Sérgio
Buarque de Holanda” de literatura amazônica.
Durante o semestre que começou em
outubro e vai até março do próximo ano, o professor Pressler, professor de
teoria literária, pesquisador e estudioso de Walter Benjamin e da literatura
paraense vai orientar estudantes de graduação e pós-graduação de literatura latino-americana
da Universidade Livre de Berlim e o carro-chefe desses estudos é a obra do
escritor paraense Dalcídio Jurandir. Tô muito feliz por que “Berlinda – asas para
o fim do mundo” está em boa companhia literária.
Agora vou começar a cuidar de outra
parte do projeto do romance: a trilha sonora que comecei a compor para a história,
que tem como abre-alas o samba enredo “Derruba o muro, mistura tudo e que deus
nos acuda”, feito em parceria com o compositor paraense Pedrinho Cavalléro para
homenagear Berlim. A música foi outro link que encontrei para unir Belém e
Berlim nesse entedo. Desse projeto participam também meus parceiros Vital Lima,
Firmo Cardoso e Albery Albuquerque. Mas sobre isso volto a falar oportunamente.
A capa, ah a capa! Bom, apresentarei
essa embalagem no próximo sábado de outubro, dia 25. Hoje vou publicar apenas
um rabisco do projeto de capa.
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