sábado, 19 de outubro de 2013

Asas para a Berlinda

Origem do projeto de capa. Dá para visualizar a ideia. By Ronald Junqueiro 
Para alguns pode parecer óbvio, mas insisto em dizer que a primeira lição para quem quer embarcar na aventura literária de lançar um livro é colocar na cabecinha que o ponto final ou o The end é pura ficção.  Essa experiência óbvia eu senti durante muitos anos atuando como repórter e antes de entregar a matéria para o editor, na pressão, lia e relia o texto quantas vezes fosse preciso e o tempo permitisse até considerar que não havia mais nada a fazer, em relação ao texto e as informações apuradas, e que o que viesse depois estava fora do meu controle. Depois de rodar e virar notícia, era esperar o depois. Falo aqui apenas do processo de preparar o texto do dia a dia numa redação, a grosso modo.

Vamos considerar também que o jornal e o livro, depois que o texto estanca no ponto final sai do nosso controle. Cada um dos dois segue um caminho e pronto. Um pode virar manchete de primeira página ou sequer virar uma chamadinha de uma coluna. O outro, o texto que virou livro, sabe-se lá!

As últimas quatro semanas foram exaustivas no ir e vir do livro no circuito editora_autor_editora_autor até quase faltar o ar, tipo rolar numa onda de pororoca e tentar escapar da última onda por pura exaustão.

Este é o total sentimento de marinheiro de primeira viagem.

É incrível a maresia de estado mentais e emocionais que a gente experimenta na reta final da revisão.  Lembro exatamente quando me dei por vencido ontem: a “Berlinda” veio para que eu fizesse a última leitura para dar o Ok. E bem depois da metade do livro meu olho esbarrou num que chamo de errinho à toa. A divisão silábica da última palavra do último parágrafo da página 203 tinha um travessão errado e a grafia errada: Na diagramação, a palavra Mehringdamm, nome de uma rua que fica no bairro de Kreuzberg, em Berlim, ficou dividida assim:

Mehringda – mm.

Os dois “mm” foram parar na página seguinte, 204. O olho bateu no erro como uma lupa e um sonoro “tóóóóin!”...

Um erro quase imperceptível a nos mostrar que revisão pode chegar à exaustão da procura à agulha no palheiro. Eu acredito que nesse processo, atingimos o instante em que essa busca pelo erro é feita no piloto automático ou de forma instintiva. E temos que cessar a procura ao texto irretocável porque não dá mais pra continuar, pinta a sensação de rejeição misturada ao cansaço, irritação e de que nesta peleja temos que dizer “pira paz não quero mais”.

Ontem, o editor me ligou à tarde e perguntou se eu já ele podia enviar o livro para a gráfica. Acho que nem ele acreditava que o trabalho de revisão havia terminado. Ainda brinquei dizendo que havia detectado mais uma série de erros. Ele tomou um susto. Depois percebeu que tudo não passava de uma pegadinha.

Depois disso veio uma espécie de dever cumprido com uma pitada de vazio. Este foi o primeiro voo da Berlinda que começa a bater as asas para o fim do mundo.

Desejo boa viagem para a Berlinda. Antes mesmo de decolar de fato, no dia 11 de novembro, quando será lançado, o romance será apresentado na abertura do seminário de literatura contemporânea, no Instituto Latino-Americano, da Universidade Livre de Berlim (FU), na aula magna que será proferida pelo professor Gunter Pressler, que inaugura a Cátedra “Sérgio Buarque de Holanda” de literatura amazônica.

Durante o semestre que começou em outubro e vai até março do próximo ano, o professor Pressler, professor de teoria literária, pesquisador e estudioso de Walter Benjamin e da literatura paraense vai orientar estudantes de graduação e pós-graduação de literatura latino-americana da Universidade Livre de Berlim e o carro-chefe desses estudos é a obra do escritor paraense Dalcídio Jurandir. Tô muito feliz por que “Berlinda – asas para o fim do mundo” está em boa companhia literária.

Agora vou começar a cuidar de outra parte do projeto do romance: a trilha sonora que comecei a compor para a história, que tem como abre-alas o samba enredo “Derruba o muro, mistura tudo e que deus nos acuda”, feito em parceria com o compositor paraense Pedrinho Cavalléro para homenagear Berlim. A música foi outro link que encontrei para unir Belém e Berlim nesse entedo. Desse projeto participam também meus parceiros Vital Lima, Firmo Cardoso e Albery Albuquerque. Mas sobre isso volto a falar oportunamente.

A capa, ah a capa! Bom, apresentarei essa embalagem no próximo sábado de outubro, dia 25. Hoje vou publicar apenas um rabisco do projeto de capa.

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