Podemos aprender com consultores de cosméticos a vender de porta em porta. By Ronald Junqueiro
Eis-me aqui pensando na vida. Olho as
coisas em volta e um pouco mais atrás. A ressaca do lançamento do livro ficará
trancafiada em novembro deste 2013 que está para nos dizer adeus e com ele se
vai para algum recôndito. O dia 11:11, como gosto de marcar a data, foi se
pulverizando e toda a poeira da festa baixou e virou uma camada de lembranças na
memória. Todas essas datas que ganham um significado para cada um de nós aos
poucos se distanciam, o eco dos risos, das conversas, do movimento, dos sons,
dos flagrantes, dos nossos sonhos e insanidades momentâneas viram como que uma
folha ou uma flor ressecada que se desidratará completamente entre páginas de
livros que gente enfia num vão da estante, se é que essa imagem tem o dom de
representar aquele instante, o que foi instantâneo.
O livro já deu uns saltos aqui e ali,
chegou às mãos de amigos no Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e
Brasília. Mas a editora Paka-Tatu começa a organizar a distribuição do romance
em dezembro. Enquanto isso, eu preparei uma campanha pessoal para vender “Berlinda”
e que coloco aqui na postagem de hoje.
E meu projeto brancaleônico “Escritor delivery” que surgiu acidentalmente no
dia seguinte ao lançamento, quando recebi o telefonema de uma potencial
leitora. E assim se deu a conversa:
- Alô! Eu estou ligando para saber onde posso comprar o livro “Berlinda – asas para
o fim do mundo”. Na reportagem tinha esse número de telefone, mas não o
endereço da livraria.
Minha cabeça que logo se enche de carbono e solta fumacinhas de desconfiança,
já imaginava uma pegadinha. Fiz uma pausa com uma tripla agilidade mental para
identificar a voz.
- Desculpe, mas que está falando mesmo?
- Estou interessada em comprar o livro.
Será que liguei errado?
- Não, não, a senhora não ligou errado,
Na verdade o número não foi substituído quando a matéria foi para os jornais...
Mas se a senhora quiser posso providenciar a entrega do livro. Aqui quem fala é
o autor.
Dito isso, nós dois caímos na
gargalhada. Acho que ela não acreditava em mim. Daí fui adiante.
- Posso mandar o livro com autógrafo...
- É mesmo? Então eu quero já...
Prometi mandar deixar ou eu mesmo levar o livro, era só ter o endereço. Ela disse
que morava um pouco longe.
- Eu moro no km 9 da BR 316...
Uau! Desânimo. Longe demais. Na rodovia. Saída da cidade. Calculei distâncias e
o trânsito horrível para chegar à BR, engarrafamento por causa das obras do
BRT. Desisti.
- Vamos fazer o seguinte. . – mas a freguesa adiantou-se.
- Eu já sei o que posso fazer. Mando minha secretária apanhar o livro. Qual é o
seu endereço?
E não é que no meio da tarde alguém
passou no apartamento para apanhar o livro? Dona Helena, que nem conheci, pois
havia saído veio apanhar a encomenda.
Devo dizer que foi uma alegria enorme a primeira venda fora do lançamento. Pedi para contar essa história à minha
freguesa literária. Ela permitiu e disse que iria ler o blog para saber se eu
contaria.
Obrigado dona Rita de Cássia Reis! E valha-nos a santinha Rita dos impossíveis –
agora, protetora dos escritores independentes que fazem o possível e o
impossível para escrever suas histórias.
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