sábado, 14 de junho de 2014

Cante-me um rock'n'roll


Enquanto isso, no país verde e amarelo... By Ronald Junqueiro

  
          Toda vez que visito Virgínia Woolf e chego ao fim da história me deparo olhando o tempo em branco, por alguns minutos.  Seus personagens são tão familiares que me deixam saudade. Cada leitura é, realmente, como se fosse uma visita a pessoas queridas, como passar dias e noites em boa companhia, mesmo que a gente tope com este ou aquele personagem desagradável, o "mala" da história. Sinto-me como se estivesse numa encruzilhada literária, agora, depois de ter voltado do Farol. Qual será o próximo passo? Reluto em iniciar a marcha. Tento desviar esse lapso com outras coisas. Encho a cabeça com colagens do dia e do dia anterior. Basta isso para criar conexões com o tempo, ir pra longe estando aqui mesmo.

          Passo na sala e ligo a televisão. Vejo o noticiário.  Morreu, no Rio de Janeiro, a cantora Marlene, aos 91 anos. Foi rainha do Rádio junto com Emilinha Borba, que morreu em 2005. Bate uma tristeza inesperada.  Lembro-me do dia que vi um show com ela, no Teatro João Caetano. Era o “Te pego pela palavra”, dirigido pelo compositor e poeta Hermínio Bello de Carvalho.  E foi um momento especial ver Marlene cantar “Rock’n’roll”, do meu amigo e parceiro Vital Lima que tinha se mudado para o Rio de Janeiro atrás de um novo tempo, traçando um novo destino. A música é uma das minhas pontes para lembrar felicidades.

Não ligue se eu estou calado
Pegue aí do lado um livro
Premiado livro
E fique lendo
Eu tenho o peito magoado
E com o silêncio achado
Fico mais tranquilo
Fico me perdendo
Meu amor,
Cante-me um rock’n’roll
Quero gritar na sala, na cozinha
Do meu lar.

          Marlene pediu para que suas cinzas fossem jogadas na baía da Guanabara. Nascida Vitória Bonaiucci, em São Paulo, adotou o nome Marlene em homenagem a Marlene Dietrich. E foi rainha, desde a era do rádio.

          Nada de luto. Vou deixar na minha página o verde amarelo de um Brasil que Marlene tanto amou.  E porque é tempo de copa. Legal que Marlene se foi em dias de festa.

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